Puxou as luvas de sua roupa protetora ajustando-as a seus dedos. Limpou o sangue que escorria de seus óculos e de seu pé de cabra no jaleco jogado no corrimão da passarela. Suas balas estavam escassas. Via-se forçado a abrir caminho a base de pancadas e contusões. Estava cansado, pois já fazia horas que lutava por sua vida naquele lugar que um dia achou tão seguro.
Deu uma breve e sarcástica risada.
Seguro? Nunca… nada do que faziam lá era seguro. A taxa de acidentes naquele complexo era altíssima, ocasionalmente resultando em mortes. Esse era o preço pago pela ciência, pela descoberta! Ironicamente não fazia tanto parte daquele acontecimento, porém provavelmente fora o estopim. Queria respostas, mas, acima de tudo, queria achar um lugar seguro, e este com certeza não o era.
Olhava o corpo do soldado que acabara de matar. Sangue escorria pelo ferimento feito por um tiro em seu pescoço. Sempre achara que esta história de “Limpeza” era mentira, porém aquele agora morto homem lhe provara o contrário. Apesar de ter algum pouco conhecimento em medicina, nada pôde fazer pelo alvejado e inocente cientista que correra em direção ao soldado achando que este seria sua salvação. Lembrou-se do doutor Kleiner, onde estaria ele agora?
Suspirou, parado nunca conseguiria sair daquele lugar.
Entrou no elevador e apertou o botão para ir ao piso superior. Assistindo melancolicamente as portas pantográficas se fecharem.
Checou seu revólver, havia agora apenas três balas, e, além destas, apenas mais vinte e cinco da compacta metralhadora do homem que tirara a vida.
Havia algo de estranho no ar… em uma momentânea realização, lembrou-se de alguns documentos e exames biológicos na mesa do doutro Kleiner… alguns dados, algumas imagens… pareciam muito com aqueles seres que o atacavam. O que estava acontecendo?
O elevador estava chegando.
“Não atire, somos da equipe de ciência!”
Tiros.
O elevador parou.
A única coisa que conseguiu ver foi um corpo vestido de branco e vermelho caindo de costas com os braços estendidos à frente.
Seu coração acelerou. Olhando em volta viu um cômodo escuro a sua esquerda e, sem pensar duas vezes, correu em direção à escuridão para se abrigar.
“Vamos!” Ouviu uma voz com certa interferência de rádio. Mais soldados.
Empunhou sua metralhadora.
Seria um dia daqueles.