Ele estava preparado.
Checou seu equipamento pela milésima vez, confirmando que estava tudo certo. Sacou sua espada e analisou o fio, estava perfeita.
Era hora de ver como esse mundo realmente estava.
Subiu as escadas do abrigo com a ansiedade quase saindo pela garganta. Começava a se perguntar se teria feito tudo que era possível, se teria se preparado adequadamente. Sentou-se na escada e retirou o suor de seu rosto. Não! Era tarde demais para duvidar de si mesmo! Teria que sair querendo ou não. Engoliu em seco e respirou fundo. Abriu as portas.
Seu quintal estava quase exatamente da maneira que ele o deixara, apenas se diferenciando pela grama alta. Havia trabalhado duro para proteger o terreno de sua casa, transformá-lo em uma fortaleza, uma base. Dirigiu-se cautelosamente até sua garagem e com um inevitável sorriso, abriu as portas, revelando seu nunca usado brinquedo.
Havia equipado seu carro por completo. “É contra a lei andar com um veículo assim”, diziam. Queria ouvir alguém falar isso agora.
Deu a partida na gigantesca caminhonete e a estacionou em frente ao portão. Olhou atentamente para fora tentando notar qualquer coisa fora do comum… mas não via nada. Seu nervosismo aumentou. “Como não havia nada?”.
Plugou a grande bateria ao motor do portão e testou o pequeno controle. Tudo certo. Era hora de encarar este mundo…
… porém havia nada.
As ruas estavam vazias, estranhamente vazias.
Quase não haviam carros, muito pouco sangue e ossos… e onde estavam os tão anunciados e temidos zumbis?
Rodou por mais de duas horas sem encontrar nada relevante, parando cansado em um posto de gasolina nos limites da cidade. Estava frustrado, perdido. Não fazia idéia do que estava acontecendo, não era o que imaginou.
Olhou para o horizonte, acompanhando letargicamente aquela mancha que se movimentava pela estrada. Mancha? Arregalou os olhos, eram veículos. Aquilo não era bom.
Entrou em seu carro e alucinadamente tentou dirigir em direção à cidade, mas foi surpreendido.
A explosão acertou a alguns metros de seu carro, porém o impacto foi surpreendente. Uma chuva de areia atingiu seu pára-brisa forçando-o a parar. Tremia. Achava que sabia o que fora aquilo, e se realmente fosse, não havia o que fazer.
O comboio o cercou. Com muito medo desceu lentamente da caminhonete, confirmando suas suspeitas ao olhar a imponente máquina. Aquilo fora um tiro de tanque.
“Você está preso por transgredir uma área restrita e suspeita de tráfico de armas biológicas”, um soldado o empurrou no chão e algemou.
Armas biológicas? Preso?
“O… o que?”, perguntou incrédulo. “Área… caralho, eu moro aqui!”
“Ninguém mora aqui”, rebateu curta e grossamente o soldado.
“EU MORO AQUI!”, respondeu rindo desesperadamente. “O que você ta fazendo? ME SOLTA! O QUE TA ACONTECENDO AQUI?!”. Sacudia-se tentando se libertar. Outros dois militares o seguraram. Depois de alguns segundos parou e ficou perdido em seus pensamentos.
“O que… que porra era isso?”, pensava desnorteado. Dava risadas intermitentes, junto com breves choramingos.
Estava desesperado demais para notar os militares se entreolhando. Sua reação chamara atenção.
Um jovem soldado se ajoelhou tentando encará-lo.
“Senhor”, tentava achar as palavras. “O que você acha que está acontecendo?”
Demorou alguns segundos para entender que eram para ele aquelas palavras.
“Eu…”, não conseguia formular nada certo. “Zumbis… eu… meu abrigo… o que está acontecendo?”
O soldado olhou perdido para seus companheiros, por onde começaria a explicar?
“Senhor os… zumbis… foram quase todos mortos. As cidades foram evacuadas e é proibido andar pelas áreas restritas, digo… cidade que fechamos” Tentava pensar no jeito mais resumido e simples de explicar. “Nós, digo, o exército, conseguimos controlar o surto, vai ficar tudo bem”.
Olhou incrédulo para o soldado. Seus olhos arregalados o encaravam com espanto, porém logo uma sensação de vazio o preencheu. Dois de seus imobilizadores o soltaram, deixando-o livre para cair ajoelhado no chão chorando. Sentiu as algemas sendo retiradas e automaticamente olhou para seus pulsos.
“Ia ficar tudo bem”, pensava.
Uma mão se estendeu, era o jovem com quem conversara. Levantou-se com sua ajuda e o encarou com os olhos marejados.
“Ia ficar tudo bem…”
Desferiu um soco em cheio no meio do rosto do soldado.
Ajoelhou-se em cima do surpreso homem que fora ao chão, desferindo-lhe mais três socos antes que mãos o impedissem de continuar.
“NÃO VAI FICAR TUDO BEM”, gritou a plenos pulmões.
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Que brecha com o carinha. Deixa o cara ser feliz e pensar que o mundo acabou.
Ri demais com essa história.